Caroni: As C-14 da Folha da Tarde
Atualizado em 25 de fevereiro de 2009 às 07:30 | Publicado em 24 de fevereiro de 2009 às 19:45
Por Gilson Caroni Filho em 23/2/2009 no Observatório da Imprensa
Faltando três dias para o início do carnaval, a Folha de S. Paulo inverteu o rito de inversão. Tirou a fantasia de "fiscal republicana", longamente confeccionada ao longo dos anos 1980, e partiu para o desfile sem disfarces, disposta a contar suas origens, histórias e personagens.
Com o editorial (ou seria um samba-enredo?) "Limites a Chávez" (17/2/2009), o jornal acompanha o pensamento do ex-publisher Octávio Frias de Oliveira (1912-2007), mostra o inconformismo com a nova institucionalidade latino-americana e reverencia os generais-presidentes da ditadura com quem manteve laços estreitos. Dessa vez, os carnavalescos da Barão de Limeira deixaram claro que o apreço pela democracia tem limites. E eles são bem mais estreitos do que supunham os otimistas.
Ecoando o sentimento da grande imprensa latino-americana, o editorial deplora mais uma vitória do presidente venezuelano em eleições internas e afirma que "o rolo compressor do bonapartismo chavista destruiu mais um pilar do sistema de pesos e contrapesos que caracteriza a democracia. Na Venezuela, os governantes, a começar do presidente da República, estão autorizados a concorrer a quantas reeleições seguidas desejarem.".
É um raciocínio tortuoso esse. É como se, uma vez desenhada a tela institucional das elites, o regime político aceitável só pudesse existir como moldura para uma realidade pretérita. Não é apenas contra Chávez que a Folha se volta, mas contra qualquer possibilidade de incorporações de novos atores sociais à política. Algo fundamental quando o que se objetiva é dar maior densidade à democracia. Reinventar o ordenamento jurídico-político, respeitando os procedimentos constitucionais, é coisa recente na América Latina.
Os termos, bem como as idéias, estão fora do lugar. Empregam-se categorias como caudilhismo, bonapartismo e até mesmo ditador, fora de contexto histórico preciso, sem qualquer rigor conceitual. É o caso de indagarmos se a Venezuela bolivariana não dispõe de um Estado com organização flexível que, assegurando a vontade popular, preserve igualdade de possibilidades e liberdade? Talvez, ali, verifique-se, em plenitude, a idéia do Estado democrático como transformador da realidade. E é precisamente isso que deve ser exorcizado pelos editorialistas de plantão: a concepção de que a democracia implica um Estado fomentador da participação pública.
Os membros do conselho editorial da Folha sabem da inexistência de presos políticos em Caracas. Não têm notícias de perseguição e assassinatos de lideranças da oposição. Não ignoram a presença de uma forte mídia privada que continua defendendo os interesses das elites banidas do poder pelas urnas, mas batem na mesma tecla do "autoritarismo chavista". O que chamam de antidemocrático, no final das contas, é o emprego da ordem legal como instrumento de reestruturação social.
Como parte integrante das classes dominantes, os conglomerados privados na área de comunicação, e seus prestimosos funcionários, não têm qualquer pudor em manejar torneios verbais de ocultamento e prestidigitação da realidade.
Alinhamento com a repressão
Voltemos ao editorial. O trecho em destaque vai além de um canhestro exercício de política comparada. Revela motivações bem mais profundas e significativas. "Mas, se as chamadas `ditabrandas´ - caso do Brasil entre 1964 e 1985 - partiam de uma ruptura institucional e depois preservavam ou instituíam formas controladas de disputa política e acesso à Justiça, o novo autoritarismo latino-americano, inaugurado por Alberto Fujimori no Peru, faz o caminho inverso".
Ao comparar o movimento político liderado por Chávez com a ditadura militar brasileira, a Folha não incorre em equívoco de um "articulista desavisado". Assume editorialmente a defesa dos golpistas de Pindorama. O neologismo "ditabranda" é usado pelos filhos de quem nunca negou apoio ao terrorismo de Estado. Pelo contrário, o empréstimo de peruas C-14 do jornal para transporte de presos mostra total alinhamento dos Frias com centros de torturas e seus comandantes mais conhecidos.
Em 1969, com o lançamento da Operação Bandeirantes (OBAN), antecedente dos DOI-Codi, a estrutura de terror estava praticamente montada. Financiada por setores do grande empresariado, a OBAN tinha a tarefa, definida após anos de discussão, em órgãos como a Escola Superior de Guerra, de centralizar toda a operação repressiva do Estado. Não lhe faltou apoio logístico da Folha da Tarde.
A "ditabranda" teve duas constituições e não respeitou nenhuma delas. O que prevalecia era uma lógica militar que devia obediência aos regulamentos internos de quartéis e aos altos comandantes do regime. Suas "ditabrandas" formas de convencimento incluíam torturas de vários tipos: espancamentos, telefones (tapas simultâneos nos dois ouvidos), corredor polonês (fila dupla de espancadores), pau-de-arara, choque elétrico, afogamentos, entre tantas outras "técnicas".
Em documento publicado pelo Congresso Nacional, conforme registrou a revista Retrato do Brasil, em 1984, havia uma "Relação parcial sobre brasileiros mortos após 64", dando conta de 197 casos até 1979, 147 dos quais só no período Médici, exatamente quando a Folha mais colaborou com o regime. Quantos mortos e torturados foram transportados por suas "ditabrandas" peruas?
Ditadômetro covarde
Como os carros alegóricos já estavam na rua, os leitores que questionaram o editorial conheceram a ira do carnavalesco. O enredo de vilezas não acabou no editorial. A ele sobreveio a ridícula "Nota da Redação" de 19/2, com o "ditadômetro"; seguida da torpe e covarde, porque oculta no anonimato da "Redação", agressão a Maria Victoria Benevides e Fábio Konder Comparato.
Com a ligeireza dos passistas de porões, a Folha se justifica com a mesma explicação dada ao personagem Anna de la Mesa, no magistral filme de Julie Gavras: A culpa é de Fidel. E não se fala mais nisso.
Ver José Serra na presidência foi um sonho não realizado pelo patriarca da família Frias. Seus filhos não poupam esforços para realizá-lo. Seria interessante saber o que pensa de tudo isso o atual governador de São Paulo. Afinal, ele foi presidente da UNE, militou na Ação Popular (AP) e, com o golpe militar, viveu no exílio até 1978. Tido por muitos como um quadro "progressista" do PSDB, deveria tecer alguma consideração sobre a "ditabranda" do jornal que o apóia. No mínimo esclareceria o que vem a ser a "progressividade do tucanato".
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ÚLTIMOS COMENTÁRIOS
laura (27/02/2009 - 13:05)
Eu fui presa na ditadura numa C14 da Folha de São Paulo entre metralhadoras e encapuzada para sofrer torturas na OBAN_DOi-Codi em 1974. Por causa de uma pessoa que nunca tinha visto na vida nem sabia de sua existencia.Assim fui recebida na Universidade de São Paulo como estudante em meus poucos vinte anos. A ditadura matava, prendia e torturava sem pudor e TODO mundo sabia o que era uma C14 e o que faziam: prender. Vc via uma, saia correndo. E sim, diziam que eram da Folha.
Carlos (27/02/2009 - 11:50)
Tem alguns meses que chutei para o alto os telejornais, os jornais e até mesmo a leitura de notícias e blogs pela internet. Meu fígado, meu estômago e minha criatividade agradeceram pela decisão que tomei. Mas é absolutamente impossível passar batido pelo termo "Ditabranda", e eu fiquei sabendo dele por mero acaso. É óbvio que para quem pavimentou a "opinião pública" para que a Redentora desfilasse seu bloco, a dita foi branda. Tanto foi branda que até andaram emprestando veículos para a 'branda passar' durante a repressão. "Estava a toa na vida, O Urutu me chamou, Pra ver a Branda passar, Cantando coisas de Amor". (Uai, aquela não foi a época do "Ame-o ou Deixe-o"?)
Aquela imagem de Wladmir Herzog "suicidado", pendurado com as pernas dobradas me vem à lembrança... Mas isto deve ser pura implicância minha, porque a dita foi branda. É o que soube sobre a opinião da FSP - Folha do Serra Presidente: a dita foi branda...
PS - Quanto dinheiro o "Governo do Estado de São Paulo" torrou em propaganda apenas durante o ano de 2008, quando foi necessário fabricar o Taxabinho? Há algum 'Marcos Valério' nesta história?
Gustavo Mendes (27/02/2009 - 01:43)
Beatriz, acabei de ler seu livro, "Cães e Guarda - Jornalistas e Censores"
Parabéns pelo trabalho (e que trabalho!!).
Simplesmente fantástico!
Recomendo e envio link para quem quiser comprá-lo:
"http://www.americanas.com.br/prod/136350/BookStore?i=1"
Luis Henrique (27/02/2009 - 00:53)
É praxe, por parte dos ideólogos da direita, usar esse 'ditadômetro' para fazer patrulhamento moral de seus adversários, desqualificando-os a priori.
Gilson Caroni Filho (26/02/2009 - 18:54)
Beatriz.
Assim que tiver lido seu lido, enviarei minhas observações.
Um abraço.
Gilson
Beatriz Kushnir (26/02/2009 - 18:36)
Prezado Gilson Caroni Filho,
Polemica a parte, no Castelo de Âmbar, Mino Carta conta uma história "ficcional" e no meio do livro, por cerca de 40 páginas, narra a sua saída do Grupo Abril. Minha tese é de 2001 e a história da Folha da Tarde não era nada conhecida. Entrevistei Mino Carta e ele leu meus originais a pedido de uma editora. Durante o "aniversário" dos 40 anos do Golpe, meu livro saiu. No meu blog (http://caesdeguarda-jornalistasecensores.blogspot.com/) há toda a coletânea de matérias sobre ele. Espero que goste do livro. Aguardo os seus comentários.
Um abraço
Gilson Caroni Filho (26/02/2009 - 09:56)
Cara Beatriz.
Prezo, e muito, direitos autorais. Nesse caso, no entanto, não posso dar os créditos que você pede por um motivo simples: não conhecia seu livro que, para preencher lamentável lacuna, devo adquirir nos próximos dias. É de conhecimento público o apoio da Folha ao regime militar. Mino Carta falou sobre isso diversas vezes, além de ter feito relato minucioso em seu "Castelo de Âmbar". Para escrever o artigo, nos parágrafos que tratam do apoio logístico do jornal à ditadura, além das informações de que já dispunha, recorri a uma entrevista do editor de Carta Capital, reproduzida no blog do Mello
http://74.125.47.132/search?q=cache:ilRkWiM_-tQJ:blogdomello.blogspot.com/2008/02/mino-carta-detona-folha-estado-o-globo.html mino carta folha ditadura&hl=pt-BR&ct=clnk&cd=2&gl=br
Atenciosamente,
Gilson Caroni Filho
Beatriz Kushnir (25/02/2009 - 20:54)
Prezado Sr., Peço por gentileza os créditos a um trabalho que perdurou por 5 anos e 1/2 e me foi financiado com verba pública da Fapesp junto a UNicamp. Trata-se da minha tese de doutoradora que, entre outros tema, historicizou a Folha da Tarde (http://caesdeguarda-jornalistasecensores.blogspot.com/).
Obrigada
Beatriz
Renato Lira (25/02/2009 - 19:11)
Com base no novo dicionário político da folha, os ediorialistas terão um campo fértil para desnvolver seu "raciocínio".
Por exemplo, eles podem afirmar que:
Wladimir Hezog, tão bem tratado nas aconchegantes acomodações do DOI-Codi, estava se divertindo e, por conta de um escorregão ou um desequilíbrio, ficou com o pescoço preso a um "barbante". E, inocentemente, os gentis homens da "ditabranda" não se deram conta a tempo do infeliz "acidente".
Os rapazes gentis da "ditabranda", incompreendidos, não estavam no Riocentro com bomba coisa nenhuma. Era uma bombinha de festa juninia (fora de época, talvez por engano no calendário), que foi levada só para animar a festa. E a "bombinha" estourou antes, e aí notarm que exageraram na dose de pólvora e aí, já viu,né? Mas era só pra animar. Só isso, seus maldosos.
A OBAN era, narealidade, aquela fábrica de velocípedes, bandeirantes, E esses malvados comedores de criancinha inventando essa conversa de repressão.
Não houve pau-de arara, afogamento, telefones, nada disso. No máximo a ditabranda fazia umas cócegas nos pés dos comedores de criancinhas com aquelas peninhas. E o pessoal adorava, pois morria (no sentido "ditabrando") de rir.
E os gentis rapazes da ditabranda usavam coturnos cor-de-rosa. Iguais àqueles usados pelo Tiririca e pelo Tom Cavalcanti.
"O resto é coisa de gente vadia e vagabunda", diriam os bons moços da folhinha.
UIA!
EVOÉ!
Hugo (25/02/2009 - 14:59)
O fato de muitos não querem a reeleição, não é pelo fato democrático, mas sim pelo medo de pessoas permanecerem no poder.
Apesar de não gostar de HUGO CHAVES, acredito que se eleger por mais mandatos é de forma soberana, pois foi feito de forma democrática.
Muita gente não sabe o que é soberania, mas devemos saber que exercitamos isso todos os dias, quando damos nossas palavras, é o que esta decidido está decidido. O que vale para um vale para todos, mas nossa imprensa, que não é burra, tenta tirar proveito em todas as ocasiões, aliás, fica em busca disso todo dia. Uma verdadeira "CONCUBINA", que troca de lado sempre que lhe é vantajoso, sem pensar nos meios que usou.
"CONCUBINA" é a pior das amantes, essas sugam como um parasita até a morte, depois busca novas vitimas, assim o ciclo é destruidor.
Não é aceitavel o modo como a imprensa vem tratando alguns assuntos, porque tentar contra a soberania e a liberdade é tentar contra toda uma nação.
José Eduardo R. de Camargo (25/02/2009 - 13:27)
Infame esse editorial. Para a Folha, democracia boa é democracia sem povo! Parafraseando, "Folha, não dá pra engolir!". E se continuar perdendo assinantes, a Folha virará jornal de bairro, da Av. Paulista e arredores!
nelson lott (25/02/2009 - 10:03)
Informo ao senhor Geraldo Magela que na época da ditadura havia no Brasil mais de trinta organizações de resistência armadas ou não. Abrangiam todo o espectro político da oposição ao regime militar, de comunistas (PCdoB, PCBR, PCB)a católicos (JUC, JOC, AP), passando por brizolistas (MAR), nacionalistas (MNR, MORENA, FLN), frentes e alianças(COLINA, ALN, FALN), sindicalistas, camponeses, etc. Algumas eram comunistas, em algumas outras comunistas predominavam, mas os comunistas tupiniquins pegaram "carona" na resistência popular, não a criaram. Cumpre notar que a resistência ao golpe militar brasileira foi iniciada por militares e sindicalistas. O primeiro resistente morto foi um coronel da FAB que não aceitou entregar o comando do seu quartel aos oficiais amotinados, no RS. Impossibilitados de atribuir a todos a "pecha"de comunista, os torturadores brasileiros criaram a figura do "cripto-comunista". Querem revivê-la para justificar o arbítrio.
A resistência francesa à ocupaçào nazista teve predominância comunista e os partisans italianos eram em sua maioria ligados ao PC italiano. Criaram inclusive "zonas lberadas". Os "maquisards" e os "partigiani" vitoriosos na luta e resistência ao nazi-fascismo não ocuparam "manu militari" o poder, pelo contrário, tornaram-se esteios da democracia francesa e italiana no pós-guerra.
A História não é feita de "se" e a política de "contenção preventiva" acabou com a democracia no Brasil para "acabar com a ameaça comuno-sindicalista".
marcosomag (25/02/2009 - 04:28)
A "Folha de São Paulo" sempre apoiou a linha dura militar. Esteve envolvida com a turma do General Sylvio Frota até às vesperas do Pacote de Abril. Depois, contrataram o Bóris Casoy para Diretor de Redação, com a missão de mudar a péssima imagem do jornal junto à população. Nas passeatas, o povo virava os carros da "Folha de São Paulo".Bóris tirou o nome dos Frias do expediente de todos os jornais da empresa "Folha da Manhã", contratou jornalistas experientes como Alberto Dines e Lourenço Diaféria e a "Folha de São Paulo" apoiou a Campanha das Diretas. Tudo propagandeado através de caríssimas campanhas publicitárias. Tudo jogado no lixo por um único editorial! Quando lí "aquilo" quase não acreditei e pensei:"o tal de Otavinho deve ter ficado louco e esqueceu de tomar o Gardenal!". O que a "Folha de São Paulo" fez com o tal editorial não foi dar um tiro no próprio pé. Foi dar um tiro da calibre 12 contra a própria cabeça!
Nonato Amorim (24/02/2009 - 21:36)
Zé Serra fazer mea culpa por ser apoiado pela Folha Ditabranda rumo a 2010? Isso é delírio, o beijo da morte já foi selado e essa dupla é "sem volta". Serra é um esgoto ambulante, nem sua Sabesp com todo o alardeado know-how (vide propaganda acreana) consegue desinfetá-lo.
DÁ-LHE, GERENTONA DILMA!!!
GERALDO MAGELA (24/02/2009 - 21:19)
Prezados, entendo que não podemos, em hipótese alguma, defender qualquer tipo de ditadura! Seja ela considerada de "esquerda" ou "direita". Se apenas 1 (um) cidadão morrer em conseqüência dessa ditadura é um crime inaceitável. A ditadura de Pinochet e dos generais argentinos realmente mataram mais pessoas! Mas, e daí? Temos como medir o valor da morte de um ser humano? A ditadura brasileira assassinou cerca de 500 brasileiros, cidadãos e "seres humanos". Os chamados "guerrilheiros" assassinaram outros tantos, em escala muito menor. Temos como medir qual foi o maior crime? Vamos lembrar que o mundo, a partir da 2ª guerra, dividiu-se entre capitalistas e comunistas. Era uma guerra não declarada. Era a "Guerra Fria". Você, naquela época, tinha que se posicionar. A favor ou contra os Estados Unidos. A favor ou contra a União Soviética. Não havia uma terceira opção, infelizmente. Os chamados "guerrilheiros" - por convicção política, fanatismo, ingenuidade, burrice, ou outra coisa - queriam instalar, no nosso país, por meio da luta armada, o seu modo de viver e fazer política. É verdade ou mentira? Se estavam certos ou errados não me cabe discutir aqui neste fórum. No meu entendimento, estavam lutando por algo em que acreditavam... ou queriam acreditar.... Todavia, não tenho a menor dúvida que se a luta armada tivesse derrubado os militares não hesitaria em governar como os governos comunistas da época. Seria apenas trocar uma ditadura por outra. Basta ler George Orwell, em "Revolução dos Bichos" ou em inglês "Animal Farm" para entendermos isso. Infelizmente, esse tema é tratado como "tabu" pela esquerda. Mas seria interessante se fazer, agora, uma reflexão sobre essa questão, sem paixões ou revanchismo. Não podemos esquecer que outros brasileiros não optaram pela luta armada e, mesmo assim, foram covardemente perseguidos e assassinados também. Se fosse estudante na década de sessenta, provavelmente teria optado por esse caminho. Com relação à Cuba, gostaria de fazer apenas algumas observações... Eu a considero uma ditadura! Pronto! Portanto, não aceito qualquer argumento que venha a amenizar esse tipo de situação. Reconheço que houve muitos avanços na área dos esportes, saúde e educação a despeito do cruel embargo imposto pelos norte-americanos. Mas pergunto: a que preço? O próprio Che Guevara - personalidade que tenho muitas críticas e observações a fazer, mas tenho que reconhecer que se trata de um mito e, principalmente, de uma pessoa coerente no que fazia - decidiu sair de Cuba ao perceber que tinha se instalado em Cuba uma nova elite que desfrutava das mesmas benesses da anterior . Ele optou em ir atrás de seus sonhos e crenças. Afinal, morreu por conta dessa escolha! Finalmente, acredito que temos como melhorar o nosso país. A eleição de Lula trouxe-nos esperança e já podemos constatar que ocorreram muitos avanços. Estamos longe do ideal. Ainda não vivemos em um estado de direito pleno e ideal. Temo, entretanto, pela próxima eleição. Certamente, se houver o retorno de qualquer candidato do PSDB ou dos Demos o país sofrerá um retrocesso terrível. Mas, como diz o ditado: "a democracia é o pior dos regimes mas não foi inventado ainda nenhum melhor". Observação: políticos como Carlos Lacerda, José Serra e difamadores travestidos de jornalistas como Reinaldo Azevedo começaram a sua militância política em partidos considerados de esquerda e/ou extrema esquerda e se transformaram no pior tipo de reacionário ou militante de extrema direita. Pensem nisso!
Carlão (24/02/2009 - 20:41)
Azenha,
A "dita" foi "branda" só com aqueles que colaboraram com a ditadura. Caso específico da folha colaboracionista, que emprestou as suas peruas C-14, para o transporte às salas de tortura, daqueles que haviam sido aprisionados pelos serviçais da Operação Oban.
Marcos D. (24/02/2009 - 20:28)
Perfeito, esse brilhante texto do Gilson Caroni. É assim que vamos desmontar qualquer discurso ridículo, falso e mentiroso, como o feito pela 'Folha', de que a Ditadura Militar brasileira foi uma 'Ditabranda': com argumentos sólidos e consistentes.
José Maurício Iglésias da Silva (24/02/2009 - 20:27)
(cont) Repudiamos, de forma igualmente firme e contundente, a Nota de redacao, publicada pelo jornal em 20 de fevereiro (p. 3) em resposta as cartas enviadas a Painel do Leitor pelos professores Maria Victoria de Mesquita Benevides e Fabio Konder Comparato. Sem razoes ou argumentos, a Folha de S. Paulo perpetrou ataques ignominiosos, arbitrarios e irresponsaveis a atuacao desses dois combativos academicos e intelectuais brasileiros. Assim, vimos manifestar-lhes nosso irrestrito apoio e solidariedade ante as insolitas criticas pessoais e politicas contidas na infamante nota da direcao editorial do jornal.
Pela luta pertinaz e consequente em defesa dos direitos humanos, Maria Victoria Benevides e Fabio Konder Comparato merecem o reconhecimento e o respeito de todo o povo brasileiro.
José Maurício Iglésias da Silva (24/02/2009 - 20:26)
Corre um abaixo assinado organizado por Antônio Cândido para protestar contra a grosseria cometida pela Folha em relação aos intelectuais Fabio Konder Comparato e Maria Victoria de Mesquita Benevides. Também denuncia o cinismo da folha ao chamar a ditadura de 64 de ditabranda por ter matado menos pessoas que outras ditaduras na América do Sul. Cheguei até o abaixo-assinado através do blog O BISCOITO FINO E A MASSA do Idelber Avelar:
REPUDIO E SOLIDARIEDADE
Ante a viva lembranca da dura e permanente violencia desencadeada pelo regime militar de 1964, os abaixo-assinados manifestam seu mais firme e veemente repudio a arbitraria e inveridica revisao historica contida no editorial da Folha de S. Paulo do dia 17 de fevereiro de 2009. Ao denominar ditabranda o regime politico vigente no Brasil de 1964 a 1985, a direcao editorial do jornal insulta e avilta a memoria dos muitos brasileiros e brasileiras que lutaram pela redemocratizacao do pais. Perseguicoes, prisoes iniquas, torturas, assassinatos, suicidios forjados e execucoes sumarias foram crimes corriqueiramente praticados pela ditadura militar no periodo mais longo e sombrio da historia polÃtica brasileira. O estelionato semantico manifesto pelo neologismo ditabranda e, a rigor, uma fraudulenta revisao historica forjada por uma minoria que se beneficiou da suspensao das liberdades e direitos democraticos no pos-1964.
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