Um cunhado desalinha paisagem de Geraldo Alckmin
A percepção da paisagem exige a reiteração de olhares. Cada um enxerga segundo o seu habito visual.
Tome-se o caso das famílas dos políticos. Todo governante carrega a parentela na paisagem.
Alguns, por muito próximos, vão à moldura instantaneamente –mulheres, maridos e filhos, por exemplo.
A maioria dos parentes, porém, é invisível. Sabe-se que eles estão lá. Mas enxergá-los exigiria o esforço de mil olhares.
De vez em quando, irrompem em cena parentes buliçosos. Mexem-se tanto e com tal desenvoltura que fica impossível ignorá-los.
Nas últimas semanas, a paisagem do governador Geraldo Alckmin foi invadida por um desses personagens.
Chama-se Paulo César Ribeiro. É irmão da primeira-dama Lu Alckmin. Cunhado do governador, portanto.
É grande a família da mulher de Alckmin. Os irmãos de Lu são contados em 11. E por que só Paulo César incorporou-se à paisagem?
O que singulariza Paulo César é o apreço que devota pelas arcas públicas. Muito especialmente as arcas municipais.
O depoimento de um conhecido poupou à platéia a lenta e paciente observação que leva à acomodação ótica de um detalhe no todo da paisagem.
Paulo César foi empurrado para o epicentro do quadro por João Bosco Nogueira, um político filiado ao PMDB.
Ex-vice-prefeito de Pindamonhangaba, berço político de Alckmin, João Bosco chama o cunhado do governador de “chefe de quadrilha”.
Acusa-o de intermediar negócios em prefeituras do interior de São Paulo. Algo que converteu Paulo César em investigado do Ministério Público.
Nesta terça (11), foi às páginas, uma entrevista da repórter Daniela Lima com o ex-vice-prefeito João Bosco.
"Não havia um contrato que se celebrasse sem que passasse pela mão dele", disse a certa altura.
Segundo ele, antes de começar a operar em Pindamonhagaba, o cunhado de Alckmin “já fazia esse trabalho em outras cidades”.
Em dezembro, a Folha noticiara que o inquérito do Ministério Público contra Paulo César vincula-se ao pagamento de propina na compra de merenda superfaturada.
João Bosco ratifica a cobrança de propinas. Acrescenta que parte da verba amealhada pelo cunhado de Alckmin desceu ao caixa dois de campanhas políticas.
Ribeiro é próximo a Alckmin?, perguntou a repórter ao ex-vice-prefeito pemedebê de Pindamonhangaba. E João Bosco: “De jeito nenhum...”
“...Eu já vi o Alckmin dando um fora nele, na campanha passada [2008], disse que o Ribeiro estava expondo ele. Eu tenho certeza que o Alckmin não tem relação com isso”.
Alckmin poderia simplesmente repetir Leonal Brizola (“Cunhado não é parente”). Mas talvez tenha de ir além das palavras para contornar o desalinho da paisagem.
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Escrito por Josias de Souza às 16h14
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