JAMES CIMINO
DE SÃO PAULO
A vila ferroviária de Paranapiacaba (a 48 km de SP), no último patamar entre Santos e o topo da serra do Mar, não via um trem de passageiros passar por seus trilhos desde 2002.
Essa situação, que é até irônica, como apontou um morador desse distrito de Santo André, deve mudar a partir do próximo dia 4 de julho.
Está agendada para essa data a inauguração do expresso turístico da CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos) que fará a ligação histórica entre a estação da Luz, no centro de São Paulo, e a vila.
O trajeto, com uma parada intermediária em Santo André, será feito em aproximadamente uma hora, custará R$ 28 por pessoa e terá monitores que contarão a história da linha e de alguns bairros por onde o trem passará.
Durante o mês de julho, quando ocorre o Festival de Inverno de Paranapiacaba, o trem circulará todos os domingos. A partir de agosto, a cada 15 dias.
A CPTM estuda também a possibilidade de colocar um terceiro vagão na composição para o transporte de ciclistas que queiram praticar o mountain biking nas trilhas de Paranapiacaba.
A volta do trem à vila já havia sido anunciada em 2008, mas, segundo a CPTM, as negociações com a empresa MRS, que detém a concessão da linha férrea entre Santos e São Paulo, não foram concluídas na época.
Preservação
Apesar de ter uma estrutura turística com dezenas de pousadas e restaurantes, além de opções variadas para a realização do turismo de aventura, o estado de preservação do patrimônio cultural da vila não é dos melhores.
Embora a prefeitura de Santo André esteja pouco a pouco recuperando casas históricas, como a Padaria do Mendes, que deve se tornar um piano-bar, as instalações ferroviárias estão em péssimo estado de conservação.
Para o desembarque dos passageiros do expresso turístico, por exemplo, está sendo construída uma plataforma provisória.
Poucos metros à frente, no entanto, há um belo galpão ferroviário bastante degradado, sem vidros e com algumas telhas faltando.
De acordo com a CPTM, a ONG AMA Brasil já trabalha em um projeto de restauro e adaptação do antigo galpão, que deverá abrigar a estação definitiva do expresso.
Mas mesmo o relógio, que lembra uma miniatura do Big Ben londrino e que, segundo a concessionária MRS, uma das patrocinadoras da restauração de sua torre, "está em perfeito estado", marcava 9h20 quando, na verdade, faltavam cinco minutos para o meio-dia.
Recuperação
Se dependesse dos esforços do paranapiacabano Rafael Alexandre Paschoal, 28 anos, todos vividos na vila inglesa, não haveria uma construção de madeira degradada naquela região.
Por volta de 2005, fez um curso de marcenaria e carpintaria promovido pela prefeitura especialmente para jovens habitantes do distrito de Paranapiacaba.
Trabalhou nas obras de recuperação da unidade do Cdarq (Centro de Documentação de Arquitetura e Urbanismo) existente na vila, onde há painéis e maquetes que explicam ao visitante o sistema construtivo das casas em madeira típicas do local.
Hoje, vive de recuperar outras construções da vila, muitas das quais abrigam restaurantes, pousadas e lojas de artesanato.
Orgulhoso do trabalho, diz que antes de tirarem a linha regular de passageiros de Paranapiacaba, a cidade estava mais conservada.
Hoje, a estrutura da passarela que liga a parte alta à parte baixa da vila está bastante comprometida. Balança só de andar. Quando os trens de carga passam, treme mais ainda.
A prefeitura de Santo André já contratou uma perícia e pretende restaurar a passarela, segundo informou o secretário-adjunto Marcos Ricardo Calvo.
No entanto, esta não é a única atração da cidade que sofre com a falta de conservação. O famoso Museu Funicular, que exibe o sistema que ajudava os trens a subir a serra do Mar por meio de cabos de aço, está fechado desde janeiro. O motivo: falta de energia elétrica.
Sidnei Gonçalves, diretor financeiro da ABPF (Associação Brasileira de Preservação Ferroviária), responsável pela operação do museu, diz que faz um ano e meio que o transformador do museu apresentou problemas.
Segundo ele, a prefeitura disse que o processo de compra do novo transformador está em andamento, mas o museu corre o risco de não abrir a tempo para que os passageiros do expresso turístico possam visitá-lo.
Gonçalves conta que, por enquanto, está conseguindo manter outra atração da vila: o passeio de 800 metros na maria-fumaça que leva os turistas da estação até a beira do abismo da serra do Mar aos sábados e domingos.
No entanto, não sabe por quanto tempo poderá manter a operação desse outro trem sem energia. "O vagão de passageiros precisará de manutenção em breve."