O estudo “Perfil dos migrantes em
São Paulo”, divulgado nesta quinta-feira (6) pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), traçou as características dos nascidos em outros estados ou países que trabalham e vivem na região metropolitana de São Paulo. Os estrangeiros se destacam e aparecem como o grupo mais escolarizado, com a maior porcentagem de empregadores e rendimento mensal médio do trabalho acima de R$ 4 mil.
O levantamento foi feito com base na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) de 2009, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), e analisou a faixa etária entre 30 e 60 anos, em que a vida profissional tende a estar mais definida. Segundo o estudo, São Paulo “emerge como a RM [região metropolitana] que atrai com maior intensidade pessoas de todas as regiões brasileiras, além de estrangeiros”. Segundo o levantamento, 45% dos moradores da região nessa faixa etária são migrantes.
Dos residentes na região metropolitana de São Paulo, 4,4 milhões são paulistas (54%); 306,8 mil paranaenses (4%); 268,3 mil cearenses (3%); 597,2 mil pernambucanos (7%); 901,1 mil baianos (11%); 624,1 mil mineiros (8%) e 83,6 mil estrangeiros (1%), entre outros (v
eja gráfico com dados completos acima).
Rendimento do trabalho
O Ipea analisou o rendimento médio de trabalho desses grupos. A média dos residentes na região metropolitana é de R$ 1.664,19 ao mês. Os estrangeiros têm o maior rendimento médio (R$ 4.058,62). Excluindo eles, o estudo dividiu três classes de trabalhadores: a classe mais baixa, formada por nordestinos e nortistas, com renda média em torno de R$ 1.000; uma classe intermediária, formada por mineiros e paranaenses, com rendimentos em torno de R$ 1.500; e uma classe mais alta, formada por paulistas e pelo grupo de migrantes dos outros estados do Sudeste, Centro-Oeste e Sul, com rendimentos em torno de R$ 2.000.
A pesquisa dividiu a população em três classes sociais, considerando a renda familiar per capita de cada indivíduo. Cerca de 40% dos estrangeiros compõem a classe mais rica e 26% dos paulistas estão nessa faixa. A possibilidade de um nordestino ou nortista estar nessa classe mais alta gira em torno de 5%, segundo o estudo. “Dá para dizer que existe uma diferença clara pelo local de origem. Os nordestinos estão na base da pirâmide em São Paulo”, afirma o técnico de Planejamento e Pesquisa Herton Ellery Araújo.
Também foi analisado o percentual de trabalhadores na região metropolitana de São Paulo com jornada semanal superior a 45 horas. Os estrangeiros são os que mais trabalham por uma longa jornada, com 58,2%, seguidos pelos cearenses (44,4%), mineiros (41,9%) e paranaenses (41%). O resultado pode estar associado ao grande número de estrangeiros empregadores ou que trabalham por conta própria.
Escolaridade
Os migrantes do Nordeste apresentam, em geral, a menor escolaridade. O estudo mostra que 59% dos baianos, 56,4% dos pernambucanos e 53,4% dos cearenses que vivem em São Paulo e têm entre 30 e 60 anos não completaram o ensino fundamental. Os mais escolarizados são os estrangeiros, sendo que 46% deles têm formação superior. Entre os paulistas, 24,3% concluíram o ensino superior, mas a maior faixa (40%) é daqueles com ensino médio completo até ensino superior incompleto.
O encarregado de obras Gilmar da Silva, de 26 anos, deixou a Bahia em 2001 em busca de emprego na capital paulista. Ele deixou de estudar na 5ª série. “Lá não tem emprego, não, só na roça. Aqui é bom, tem serviço”, contou ele. O pedreiro Ébio Miranda de Souza, de 35 anos, trouxe a família para São Paulo em 1997, também em busca de uma oportunidade de trabalho. Ele deixou de estudar na 7ª série. “Isso atrapalha, às vezes”, disse ele, sobre a escolaridade.
A PNAD também perguntou sobre o uso de internet nos últimos três meses. Entre os moradores da região metropolitana com a faixa etária analisada, 61,7% dos paulistas haviam utilizado a web neste período. Os estrangeiros aparecem como os mais conectados na rede, com 63,2% dos entrevistados. Entre os pernambucanos, 21,1% utilizaram a internet no período questionado.
Emprego
Os estrangeiros lideram os que declararam ser empregadores (13,4%), mas aparecem também como o menor percentual de carteiras assinadas (31,3%) e o maior de não remunerados (9%). Pela avaliação dos técnicos do Ipea, restrições de cidadania podem dificultar a obtenção de empregos formais. Em relação aos não remunerados, a avaliação dos técnicos é que eles são os "filhos dos donos", que trabalham no negócio da família sem receber um dinheiro fixo. Os paranaenses aparecem em segundo lugar entre os empregadores, com 6,5% declarando ocupar esta posição.
O francês Thibaud Lecuyer mudou para São Paulo em novembro de 2010. Junto com dois sócios estrangeiros e um brasileiro, ele lançou um site de e-commerce de moda. O casamento com uma brasileira o motivou a se estabelecer no país. A escolha pela cidade, no entanto, foi profissional. “São Paulo é mais focada nos negócios, por isso decidimos estabelecer nossa companhia aqui. As três grandes possibilidades que surgiram foram aqui”, contou.
O italiano Riccardo Barberis é diretor de operação de uma empresa de recursos humanos. Ele mudou para a capital paulista com a família em janeiro deste ano. “O mercado aqui oferece oportunidades. Foi uma boa combinação de uma oportunidade profissional com uma experiência de vida. Depois de muitos anos no mesmo mercado, eu pensei que era um momento certo de fazer uma mudança mais radical”, disse.
Entre os paulistas, 5,6% são empregadores, 9,3% estatuários, 48,1% têm carteira assinada, 10,1% trabalham sem carteira, 20% por conta própria, 6% empregados domésticos e 0,8% não remunerados. Os baianos apresentam a maior proporção de empregados domésticos (21,1%), segundo o estudo.